Chamada: Brasileiros/as na 4a. Conferência Internacional em Decrescimento para Sustentabilidade Ecológica e Equidade Social

Um grupo de brasileiros/as está se organizando para participar da IVConferência Internacional em Decrescimento  para a Sustentabilidade Ambiental e Equidade Social que acontece este ano em Leipzig, na Alemanha, de 2 à 6 de setembro.
A Rede Brasileira pelo Decrescimento Sustentável quer promover o encontro destes/as participantes e ajudar a divulgar os trabalhos e projetos em curso no Brasil.
Se você vai apresentar seu trabalho na Conferência, nos envie seus dados: Nome, Instituição ou Projeto, data, local e horário da apresentação e uma descrição de no máximo 5 linhas sobre o conteúdo para divulgarmos no blog do Decrescimento Brasil e na lista de discussão virtual (decrescimento@yahoogroups.com.br)
Se você não vai apresentar, mas participará da Conferência, também está convidado a nos contatar.
Usaremos uma ferramenta online para marcarmos um dia e horário para um encontro informal dos/as participantes brasileiros/as presentes na Conferência.
Contato: decrescimentobrasil@gmail.com
FB: https://www.facebook.com/groups/decrescimento.brasil/
Até lá!

Chamada para Artigos


  2 a 6 de setembro de 2014, Leipzig
Construindo pontes entre movimentos e pesquisas para a grande transformação.
   
A Conferência Internacional sobre Decrescimento chegou ao seu quarto local: desde Paris em 2008, o debate sobre como se afastar de uma economia orientada para o crescimento rumo a uma sociedade mais sustentável chamou a atenção do mundo todo. A quarta conferência internacional ocorrerá em um país considerado o motor europeu do crescimento econômico. Tradições diferentes da crítica ao crescimento estão convidadas para um diálogo frutífero, entre elas o conceito de uma sociedade pós-crescimento proveniente da comunidade falante do idioma alemão e o debate francês e do sul da Europa. O objetivo da conferência é unir profissionais, ativistas e cientistas e abrange vários formatos de apresentação, interação, workshops e intercâmbios. Esta Chamada para Artigos diz respeito ao programa científico da quarta conferência, que tem o objetivo de refletir, fortalecer e desenvolver ainda mais o trabalho acadêmico sobre o decrescimento.
Mais informações sobre a conferência: http://leipzig.degrowth.org/en/
Prazos
As propostas de atividades para sessões especiais precisam ser enviadas até 31 de dezembro de 2013, 

Os artigos e resumos deverão ser enviados até 31 de janeiro de 2014. 

O processo de revisão será concluído até o final de maio.
Assuntos temáticos e tópicos
Assuntos temáticos
A conferência abordará três assuntos temáticos principais. Para o programa científico, recebemos colaborações sobre os seguintes tópicos:
+ Organização de sociedade
Políticas de emancipação, participação, instituições
  •  Múltiplas crises
  • Capitalismo e crescimento econômico
  • Organização e coordenação social fora do crescimento
  • Condições para o decrescimento
  • Democracia fora do crescimento
  • Organização de comunidade e regional
  • Infraestrutura e serviços públicos
  • Transformando a educação
  • Dívida pública e impostos
  • Distribuição e renda mínima
  • (Re)distribuição, equidade e inclusão
  • Movimentos sociais, projetos auto-organizados, nova onda de protestos
  • ...
+ Criação de uma economia social e ecológica
(Re)produtividade, bens comuns, relações entre a sociedade e a natureza
  • (Eco)feminismo e decrescimento
  •  Produtividade e (re)produtividade fora do crescimento
  • Limite planetário e justiça ambiental
  • Sul Global, BRICS e decrescimento
  • Metabolismo social e fluxos de materiais
  • Comércio internacional e fluxos de capital
  • Sistemas monetários e financeiros
  • Energia, habitação e mobilidade
  • Cenários e modelos de uma economia pós-crescimento
  • Agricultura e relações entre a área rural e a urbana
  • (Des)comoditização da natureza
  • Trabalho, emprego e atividades socialmente significativas fora do crescimento
  • Bens comuns, solidariedade e economia de oferta
  • Formas e organização dos negócios
  • ...
+ Vivência social
Buen vivir, bens comuns criativos, conhecimento e tecnologia
  • Buen vivir e pós-desenvolvimento
  • Geradores culturais do crescimento
  • (Des)urbanização e (des)alienação
  • Aprendizado social e experimental
  • Bens comuns criativos e distribuição livre (open source)
  • Espiritualidade, reconexão e relacionalidade
  • Geração de conhecimento, pesquisa e desenvolvimento, tecnologia
  • Tecnologias sociais
  •  Modelos de bem-estar alternativos: felicidade, necessidades e a boa vida
  •  Perspectivas culturais, antropológicas e éticas do decrescimento
  •  ...
Etapas narrativas
A conferência é dividida em três etapas narrativas, que oferecem uma perspectiva comum e uma estrutura geral respectiva a cada dia completo:
Quarta-feira: Enfrentando a crise atual: crítica e resistência.
Quinta-feira: Construindo alianças.
Sexta-feira: Visões e estratégias para a transformação.
Os artigos científicos e discussões precisam ter como base a situação atual e desenvolver ainda mais a pesquisa atual sobre decrescimento, pós-crescimento e sustentabilidade, abordando os desafios existentes, a aplicação de novos programas de pesquisa e a conexão de abordagens diversificadas de uma maneira promissora.
Estrutura da conferência
O programa científico será composto pelos seguintes formatos:
Semi-plenaries com palestrantes eminentes e uma perspectiva científica sobre decrescimento e pós-crescimento
Core and short paper sessions com a apresentação de colaborações individuais
Core sessions com apresentações mais longas e um comentário preparado
Poster presentations no salão central do local da conferência
Special sessions  com apresentações com um foco temático específico ou outras atividades como workshops de discussão, sessões de leitura ou planejamento de uma rede de pesquisa; preparadas e enviadas por um organizador de sessão externo
 
Procedimento de envio 
Recebemos de bom grado propostas de apresentação de dissertações individuais e pôsteres e também para a organização de sessões especiais. As propostas devem abordar um ou mais tópicos da conferência sob o prisma de uma ou mais das etapas narrativas.
Core sessions exigem o envio de um artigo completo (de 3000 a 8000 palavras) e um resumo curto (máx. de 150 palavras)
Short paper and poster sessionsexigem o envio de um resumo longo (máx. de 1200 palavras) e um curto (máx. de 150 palavras).
Special sessions with paper presentations podem ser propostas por meio do envio de um resumo (máx. de 800 palavras) com o tópico da sessão e uma lista de palestrantes e títulos da apresentação. Mediante a aceitação da sessão os palestrantes que estiverem na lista deverão enviar um resumo longo e outro curto a fim de passar pelo processo de revisão.
Special sessions comprising other formats exigem um resumo (máx. de 800 palavras) com informações sobre a estrutura, o tópico e o objetivo da sessão.
 
Cientistas, profissionais, artistas e ativistas também são convidados a enviar artigos estimulantes (stirring papers) curtos e de fácil compreensão para o público geral. Caso seu artigo seja aceito, ela servirá como um documento de introdução para grupos de trabalho de especialistas de um processo chamado de Processo de montagem de grupo. Se você quiser participar desse processo, envie seu artigos estimulantes de 1000 a 1500 palavras até 31 de janeiro de 2014.
 
Mais informações sobre a conferência: http://leipzig.degrowth.org/en/

Decrescimento pode sim desacelerar destruição de meio ambiente

A teoria do "decrescimento econômico" é um caminho para a preservação do meio ambiente?

SIM
por João Luís Homem de Carvalho

Segundo diversos estudiosos sobre o assunto, a ideia de decrescimento tem conexão com a prática sociopolítica. Ela se define como um programa político sem receitas próprias para a construção de alternativas à sociedade do crescimento. Apresenta-se como um caminho, um horizonte aglutinador diante da impossibilidade física do crescimento permanente e da insustentabilidade do nosso atual modelo de desenvolvimento.
  Serge Latouche ressalta que o decrescimento é a bandeira de um projeto alternativo para uma política do pós-desenvolvimento. Segundo ele, o decrescimento é, em primeiro lugar, um slogan para provocar e permitir o entendimento de que um crescimento ilimitado não é possível em um mundo com recursos limitados.

O termo decrescimento simboliza a necessidade de ruptura. Uma ruptura integral na qual não é possível aceitar conceitos como “crescimento verde” ou “desenvolvimento sustentável”. Decrescimento significa o abandono da meta do crescimento pelo crescimento.

Wikicommons

Quase 2 bilhões de toneladas de CO2  são emitidas por automóveis anualmente, em escala mundial


Quando 20% da população mundial consomem 86% dos recursos naturais, podemos dizer que para os 80% consumirem mais, para terem uma vida digna, os 20% têm de decrescer seu consumo. Por isso, a proposta do decrescimento não é para todos os lugares e nem para todos. O decrescimento deve ser necessariamente equitativo e seletivo. Os primeiros que têm muito a ganhar com essa proposta são os mais pobres. A primeira meta do decrescimento é o decrescimento das desigualdades.
Uma das formas de implantá-lo seria seguir, segundo Serge Latouche, os oito R’s: Redistribuir; Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Recontextualizar, Reavaliar, Reestruturar e Relocalizar. Mostramos a seguir a aplicação prática de alguns desses R’s.

Imaginemos, numa escala de 100 pontos, o que gastaria mais recursos naturais de maneira grave. Elegeríamos os quatro principais impactos ao meio ambiente.

O primeiro impacto representaria 40 pontos na escala: o consumo pelo transporte de veículos individuais, o automóvel. O carro está contribuindo para a destruição do planeta: pela emissão de grande quantidade de CO2 (gás carbônico), pelo desperdício de recursos naturais, por ceifar a vida de milhões de pessoas e por subtrair imensa área de terra produtiva em favor da exorbitante quantidade de automóveis. Há no mundo, aproximadamente, 1,3 bilhão de automóveis. São produzidos 70 milhões por ano, 192 mil por dia e 133 por minuto. Podem-se estimar as emissões de CO2 pelos automóveis, em escala mundial, de aproximadamente dois bilhões de toneladas por ano.
Wikicommons

Produção e distribuição de alimentos são um dos pontos que consomem mais recursos naturais, como água e energia

Esses dados demonstram a irracionalidade de incentivar, cada vez mais, o uso massivo do automóvel individual, em detrimento do transporte coletivo e da preservação da vida no planeta. Teríamos que reavaliar a utilização do automóvel, reduzir sua utilização e aumentar os meios de transporte de massas e alternativos, como a bicicleta.

O segundo impacto é a climatização (ar-condicionado e aquecedores ambientais). Em nossa escala, esta representaria de 25 pontos. A redução de somente 2 ºC no ar-condicionado ou no aquecimento significaria gastar a metade do que se consome no mundo para fazer funcionar esses aparelhos. A climatização proporciona impacto energético e impacto de efeito estufa pelos gases que emite. Só com a redução de 2ºC, teríamos uma queda significativa  nas emissões de CO2.

O terceiro impacto é a hiperdistribuição alimentar, que representa 20 pontos em nossa escala. A produção e a distribuição de alimentos são, sem dúvida, um dos pontos que consomem mais recursos naturais por empregar, cada vez mais, energia e água disponível. Em relação à pecuária, por exemplo, é negativamente exemplar o Brasil produzir soja para alimentar o rebanho bovino europeu do outro lado do oceano. Do arroz consumido em todo o território brasileiro, 68% são produzidos no Rio Grande do Sul. Nesse caso propomos relocalizar, que significa produzir localmente, no que for essencial, os produtos destinados à satisfação das necessidades da população.

O quarto impacto é o sistema da indústria da obsolescência, com 15 pontos. Ela é considerada o motor do consumismo e fundamental para o crescimento do consumo.  A obsolescência é dividida em três grupos: obsolescência técnica ou funcional, obsolescência perceptiva e obsolescência planejada. Para pouparmos o meio ambiente, propomos reduzir, reutilizar e reciclar. Trata-se, inicialmente, de limitar o consumo excessivo e o incrível desperdício: 80% dos bens postos no mercado são usados uma única vez, antes de irem para a lata de lixo.

Entretanto, por mais claro e lógico sejam os exemplos e por mais que estejamos de acordo com as propostas, elas só poderão ser implementadas no âmbito de uma sociedade do decrescimento, que um dia acontecerá por força de uma crise ecológica cada vez mais grave.


Leia também o NÃO:
É preciso ter recursos para investir em soluções de salvaguarda ambiental


(*)João Luís Homem de Carvalho é professor, doutor, leciona no CEAM - Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares - da Universidade de Brasília, onde ministra as disciplinas Agricultura Alternativa e Decrescimento.

Fonte: Opera Mundi 

Para compreender o “Decrescimento”

Pouco frequente, ainda, no Brasil, um debate tomou corpo e expandiu-se rapidamente nos últimos anos, em paralelo ao desconforto com o capitalismo e seus impasses. Trata-se da ideia de “decrescimento”. “Outras Palavras” abordou-o em diversos textos, no passado — mas deu-lhe destaque especial em 10 de outubro. Um artigo do cientista político catalão Vicenç Navarro criticava “algumas teorias” do decrescimento. 
 Em sua opinião, elas acabam reduzindo-se a um ambientalismo elitista e antissocial, ao sugerirem, diante de países em crise, a continuação das políticas de “austeridade”, que geram mais desemprego e desindustrialização.
O artigo de Navarro gerou importante polêmica, na seção de comentários dos leitores. “Outras Palavras” convidou um dos polemistas, Alan Bocato-Franco, a escrever uma réplica. O resultado foi melhor que a encomenda. Muito mais que polemizar com Navarro — com quem, aliás, parece compartilhar pontos de vista –, Alan traça, no texto a seguir, um importante panorama sobre a origem, sentido e história das teorias do “decrescimento”.
É algo de enorme atualidade, num país que precisa encontrar uma síntese entre duas posições igualmente indispensáveis. Por um lado, as críticas cada vez mais frequentes a símbolos antes intocáveis do “progresso” — por exemplo, o automóvel, as grandes obras viárias e a multiplicação de projetos de geração de energia, desacompanhada de uma análise séria sobre o consumo de eletricidade.  Por outro, a ênfase na redistribuição de riqueza e na necessidade de assegurar condições de vida dignas à ampla maioria da população — o que exige, por exemplo, muito mais infra-estrutura (portanto, obras…) de transporte público, saneamento ou urbanização das periferias. (A.M.)

Fonte: Outras Palavras  


Para compreender o “Decrescimento”
Por Alan Boccato-Franco


O movimento pelo decrescimento tem sido alvo de crítica recorrentes e repetitivas. De modo geral, acusam-no de tratar o crescimento econômico apenas em termos quantitativos, sem considerar suas variantes qualitativas. Além disso (ou por isso), afirma-se que seus defensores são malthusianos, porque propõem que a população e o consumo global sejam  estabilizados, se não reduzidos. Seriam os decrescentistas saudosistas de um estilo de vida pré-civilizatório, por não reconhecerem que o progresso tecnológico libertou a população humana dos limites biofísicos da natureza e nos apresentou o progresso? Este artigo tem como objetivo dialogar com essas críticas.

A questão do crescimento
Há, no decrescimento, uma defesa explícita pelo aumento das atividades econômicas que fortalecem a saúde humana e a diminuição das que intoxicam a sociedade. Defende as atividades que causam impactos menos acentuados e a diminuição das que degradam o ambiente de modo acelerado. Defende ainda o aumento das que fortalecem a autonomia das pessoas, estreitam seus laços e distribuem renda e a diminuição das que alienam, fragilizam as relações sociais e geram exclusão. Mas os decrescentistas reconhecem que mesmo para as atividades econômicas qualitativamente diferenciadas os limites biofísicos do planeta persistem. Certamente a humanidade terá uma maior margem de manobra. Mas os limites ao crescimento econômico continuarão existindo.
A partir disto, a qualidade do crescimento econômico é relevante, mas secundário. O ponto principal é o paradigma do crescimento ilimitado. O decrescimento coloca em questão o modelo de sociedade, e as teorias de desenvolvimento que o sustentam, que tem o crescimento como condição fundamental para a “harmonia” socioeconômica ou, em outras palavras, a ausência de crise. Para o decrescimento, uma sociedade organizada sob o paradigma do crescimento ilimitado está fadada ao fracasso, pois é impossível crescer indefinidamente seja qual for a qualidade desse crescimento.
População, consumo e tecnologia
O decrescimento reconhece como verdadeira a equação I=PAT formulada por Ehrlich. Essa referência aparece de modo pontual e periférico em algumas publicações do decrescimento (1). Ela nada mais diz que o impacto ambiental (I) tem relação direta com o tamanho da população (P), sua afluência ou consumo (A) e a tecnologia (T). Com base nela, os decrescentistas aceitam a conclusão de que a redução de (A) por suficiência e sobriedade, bem como a de (T) pelo progresso tecnológico não determinam a redução indefinidamente do impacto sem que a população seja estabilizada ou diminua.
Dessas três variáveis, o decrescimento foca sua crítica no consumo. E por isso, seus partidários são acusados de negligenciarem os avanços tecnológicos. A verdade é que o decrescimento não nega que estratégias como reciclagem, diversificação da matriz energética e ecoeficiência sejam essenciais e devam ser estimuladas. Mas não as vê como soluções salvadoras do crescimento econômico ilimitado. Desta forma, reconhece a tecnologia sem a ingenuidade de acreditar que seu avanço seja prova de que a sociedade não deve se libertar da “gaiola do consumismo” (2). De modo que somente numa sociedade fora do paradigma do crescimento, que tem como base o consumismo, a tecnologia ganha alguma eficácia para conciliar atividade econômica e capacidade de carga do planeta.
Já a variável população está muito pouco presente na literatura e nos debates sobre o decrescimento (3). A redução da população é categoricamente entendida como uma falsa solução (4). Quando se trata de uma eventual regulação da população, ela deve ser igualitária e democrática, em vez de violenta e desumana, conforme propunha Malthus. Os decrescentistas rejeitam a limitação do número de filhos e assumem uma transição demográfica por meio da emancipação das mulheres, da alfabetização e da democracia (5).

Diferentes raízes
O decrescimento não tem uma única raiz. Podem ser identificadas até seis fontes intelectuais do movimento (6) como: 1) ecológica; 2) pós-desenvolvimentista e anti-utilitarista (7); 3) sentido da vida e bem viver (8); 4) bioeconômica (9); 5) democrática (10) e; 6) justiça (11). Uma das influências intelectuais é Ivan Illich, que figura em duas dessas seis fontes (2 e 5). Uma das inspirações buscadas nesse autor está no processo de “coisificação” que consiste na transformação da percepção das necessidades reais em produtos manufaturados de massa. Ou seja, as necessidades reais das pessoas transformam-se na necessidade por produtos industriais: a sede se converte na necessidade de um refrigerante, a mobilidade se reduz à necessidade de se ter um carro e a saúde se transforma na necessidade de tomar remédios e suplementos comprados numa farmácia. Assim, a indústria passa a deter um monopólio radical sobre as necessidades humanas. A técnica industrial cria as necessidades fictícias para as pessoas, e sugere que apenas  os bens e serviços produzidos por ela são capazes de atender essas necessidades.
Uma das críticas feitas pelo decrescimento e inspiradas em Illich recai sobre a hegemonia do sistema de saúde pautado numa abordagem industrial, individual, privatista e heteronômica. Isso não significa negar os avanços da medicina científica. Aponta-se, isto sim, a apropriação perversa da medicina pela indústria, que transforma a primeira em mero produto destinado ao consumo. Ao denunciar este processo, o decrescimento pretende contribui para a democratização do acesso à medicina científica. Mais do que isto, denuncia a supremacia da prática médica em detrimento às outras formas de conhecimento e práticas de cuidado com a saúde. Isto implica em entender a saúde individual e coletiva a partir de múltiplas perspectivas. É ampliar o leque das possibilidades de cuidados, de modo que ao mesmo tempo aumenta-se a autonomia do indivíduo em cuidar de si, naquilo que for adequado. Em outros casos, defende-se acesso democrático ao serviço especializado.

Diferentes correntes
Sobre o tema do decrescimento, existem dezenas de livros, centenas de artigos acadêmicos, muitos blogs, inúmeros coletivos de experimentação prática, grupos de discussão, de pesquisa e de formação em países dos hemisférios Norte e Sul (12), inclusive o Brasil (13) que se auto-reconhecem como parte do movimento pelo decrescimento. Todos à sua maneira e entendimento vêm contribuindo para a construção das múltiplas identidades e entendimentos sobre o decrescimento. Há inclusive uma sistematização (14), que não abrange a totalidade dessa diversidade, que reconhece ao menos duas “vertentes” que se complementam: o decrescimento à francesa, que foca sua crítica à modernidade; e o decrescimento sustentável, mais alinhado com a disciplina Economia Ecológica. Assim, este é um movimento ainda em processo de formação e significação, sendo que qualquer crítica dirigida a ele baseada em apenas um único autor constitui um erro precário.

A novidade
Ao reconhecer e divulgar suas fontes intelectuais, o decrescimento assume que o debate que provoca não é novo (15). Desta forma, o decrescimento ao mesmo tempo, incorpora e articula movimentos e autores que já empreenderam criticas à modernidade, ao desenvolvimentismo, ao consumismo, à democracia, à impossibilidade de generalização do padrão de consumo dos países e das classes ricas e às desigualdades ecológica e social.
Mas o decrescimento abre perspectivas radicalmente novas, quando denuncia que, sem superar o paradigma do crescimento ilimitado, o crescimento das economias já desenvolvidas irá agravar as desigualdades globais. Além de explicitar que todas as teorias de desenvolvimento, sejam quais forem, tratam de como provocar mais crescimento econômico. Ademais, o decrescimento retoma o debate sobre a autonomia da sociedade com relação ao Estado e sobre a influência da razão contábil e instrumental das grandes burocracias públicas ou privadas. Assim, os decrescentistas rejeitam as falsas soluções que se focam apenas na gestão e na escolha dos tipos de recursos. Mais que isto, os decrescentistas buscam provocar mudanças de sentido, não só dos meios, mas também dos fins (16). Em suma, a novidade está no entendimento de que sem modificar a essência do modelo socioeconômico e dos valores pessoais não haverá saída.
-
1. KERSCHNER, C. Economic de-growth vs. steady-state economy. Growth, Recession or Degrowth for Sustainability and Equity?, v. 18, n. 6, p. 544–551, abr. 2010;
MARTINEZ-ALIER J. Environmental justice and economic degrowth: An alliance between two movements. Capitalism, Nature, Socialism, v. 23, n. 1, p. 51–73, 2012.
SORMAN, A. H.; GIAMPIETRO, M. The energetic metabolism of societies and the degrowth paradigm: analyzing biophysical constraints and realities. Degrowth: From Theory to Practice, v. 38, n. 0, p. 80–93, jan. 2013.
XUE, J.; ARLER, F.; NÆSS, P. Is the degrowth debate relevant to China? Environment, Development and Sustainability, v. 14, n. 1, p. 85–109, 2012.
2. JACKSON, T. Prosperity without growth: economics for a finite planet. London: Earthscan, 2009.
3. A questão da população, sobretudo relacionada às ideias de Ehrlich, considerado por alguns como um autor malthusiano, não é sequer citada em diversos livros sobre o decrescimento, em edições especiais de revistas acadêmicas dedicadas exclusivamente ao decrescimento ele tampouco figura entre as raízes intelectuais do movimento. Para verificação veja:
BAYON, D. et al. Decrecimiento : 10 preguntas para comprenderlo y debatirlo. [Mataró]: Ediciones de interveción cultural/El Viejo Topo, 2011.
DEMARIA F et al. What is degrowth? from an activist slogan to a social movement. Environmental Values, v. 22, n. 2, p. 191–215, 2013.
FLIPO, F. Conceptual roots of degrowth Proceedings of the First International Conference on Economic De-Growth for Ecological Sustainability and Social Equity. Paris: Research & Degrowth, Telecom Sud-Paris, 2008
KALLIS, G.; KERSCHNER, C.; MARTINEZ-ALIER, J. (EDS.). Special Section: The Economics of Degrowth. Ecological Economics, v. 84, n. 0, p. 172–269, dez. 2012.
LATOUCHE, S. Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
LATOUCHE, S. La apuesta por el decrecimiento ¿cómo salir del imaginario dominante? Barcelona: Icaria, 2009.
MARTINEZ-ALIER, J. et al. Sustainable de-growth: Mapping the context, criticisms and future prospects of an emergent paradigm. Ecological Economics, v. 69, n. 9, p. 1741–1747, 2010.
TAIBO, C. En defensa del decrecimiento : sobre capitalismo, crisis y barbarie. Madrid: Los Libros de la Catarata, 2009.
4. Ver a subseção “Uma falsa solução: reduzir a população” do livro Pequeno tratado do decrescimento sereno, de Latouche (2009) – citado acima.
5. Ver o capítulo “El decrecimiento, ¿es malthusiano?” do livro Decrecimiento: 10 preguntas para comprenderlo y debatirlo, de Bayon e colaboradores (2011) – citado acima.
6. DEMARIA e colaboradores (2013) – citado acima
7. Algumas referencias desta fonte intelectual são: os criticos do desenvolvimento das décadas de 1970 e 1980, como Latouche, Arturo Escobar, Gilbert Rist, Helena Norberg-Hodge, Majid Rahnema, Wolfgang Sachs, Ashish Nandy, Shiv Visvanathan, Gustavo Esteva, François Partant, Bernard Charbonneau e Ivan Illich. Inclui também os críticos inspirados por Marcel Mauss como Alain Caillé e outros membros do MAUSS. Além de outros autores como Karl Polanyi e Marshall Sahlins.
8. Algumas referencias desta fonte intelectual são Henry David Thoreau, Pierre Rabhi, Mongeau, Schumacher, Kumarappa e Easterlin.
9. Georgescu-Roegen, Herman Daly, Donella Meadows, Kenneth Boulding, E. F. Schumacher, Howard T. Odum e Elizabeth C. Odum
10. Algumas referências desta fonte intelectual são: Ivan Illich, Jacques Ellul e Cornelius Castoriadis.
11. Uma das referências desta fonte intelectual é Paul Aries
12. Demaria e colaboradores (2013) – citado acima
13. BOCCATO-FRANCO, A. A. O decrescimento no Brasil. In: LÉNA, P.; NASCIMENTO, E. P. DO (Eds.). Enfrentando os limites do crescimento: sustentabilidade, decrescimento e prosperidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2012. p. 269–288.
14. Martínez-Alier e colaboradores (2010) – citado acima
15. Para verificação: Latouche (2009); Bayon e colaboradores (2011) e Martínez-Alier e colaboradores (2010) – citados acima.
16. KALLIS, G. In defence of degrowth. Ecological Economics, v. 70, n. 5, p. 873–880, 2011.

Alimentação: a tecnologia mórbida

Decrescer a indústria da alimentação e crescer a produção e consumo de alimentos não processados e sem veneno!


Alimentação: a tecnologia mórbida

Fonte: Carta Maior

Henry Kissinger, figura famosa na política mundial, dizia que quem domina a comida domina as pessoas. Não incluíram no pacote as doenças crônicas resultantes do tipo de comida difundida pelo mundo como algo “moderno”, como o hambúrguer e o refrigerante cola – diabetes em adultos, cardiovasculares, câncer e hipertensão, apenas para citar as campeãs nas estatísticas. A OMS informa que 2,8 milhões de pessoas morrem em consequências de doenças associadas ao sobrepeso. E outras 2,2 milhões morrem por intoxicações alimentares. 

Por Najar Tubino.

Porto Alegre - A indústria da alimentação deverá faturar em 2014 US$5,9 trilhões, segundo estimativa da agência britânica dedicada à pesquisa sobre consumo e marcas – The Future Laboratory. O mercado global de snacks (bolinhos, biscoitos, salgadinhos) deverá movimentar US$334 bilhões. As vendas de chocolates e confeitos vão faturar US$170 bilhões. O Brasil consumiu em 2012, 11,3 bilhões de litros de coca-cola, empresa que faturou US$48,02 bilhões, e lucrou US$ 9bilhões. Na pesquisa do IBGE comparando 2002-2003 com 2008-2009, o consumo anual de arroz das famílias caiu 40,5% - de 24,5kg para 14,6kg- e o de feijão caiu 26,4% - de 12,4 para 9,1kg. Os refrigerantes do tipo cola cresceram 39,3% de 9,l litros para 12,7 litros.

No Brasil, 48,5% da população está acima do peso, são 94 milhões de pessoas. Entre as crianças de 5 a 9 anos o aumento da obesidade multiplicou por quatro nos meninos (de 4,1% para 16,6%) e por cinco entra as meninas – de 2,4% para 11,8%. Uma em cada 10 crianças abaixo dos seis anos já apresenta sobrepeso. Nos Estados Unidos 35,7% da população, ou seja, mais de 135 milhões de pessoas são obesas, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) – 17% são jovens. No mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde o número já atinge 1,5 bilhão de pessoas. Na China, o índice de obesidade duplicou nos últimos 15 anos, na Índia subiu 20%. No Brasil, segundo um estudo da Universidade de Brasília, o SUS paga R$488 milhões por ano para tratar doenças ligadas ao aumento do peso.
Moderno doentio

As causas citadas para explicar esta tragédia humana estão associadas à mudança tecnológica, ao estilo de vida das metrópoles, aos hábitos sedentários, a questão prática da vida atual, não deixa tempo para cozinhar, comer em casa, entre outras tantas. É óbvio que a alimentação está no centro desse problema, que há muito tempo deixou de ter uma abordagem cultural, e precisa ser encarado como uma mudança social, política e econômica. Henry Kissinger, figura famosa na política mundial, dizia que quem domina a comida domina as pessoas. Não incluíram no pacote as doenças crônicas resultantes do tipo de comida difundida pelo mundo como algo “moderno”, como o hambúrguer e o refrigerante cola – diabetes em adultos, cardiovasculares, câncer e hipertensão, apenas para citar as campeãs nas estatísticas. A OMS informa que 2,8 milhões de pessoas morrem em consequências de doenças associadas ao sobrepeso. E outras 2,2 milhões morrem por intoxicações alimentares, resultante de contaminações de vírus, bactérias, micro-organismos patogênicos e resíduos químicos.

Neste capítulo específico a história é longa. Um dossiê da Autoridade de Segurança Alimentar e Econômica, de Portugal, usando os dados da União Europeia, contabiliza 100 mil compostos químicos usados correntemente no mundo. Na União Europeia eles registram 30 mil, produzidos a uma média de uma tonelada por ano, sendo que a metade tem potenciais efeitos adversos à saúde.

“- Poucos foram estudados em profundidade suficiente de modo a permitir as estimativas de riscos potenciais de exposição, sobretudo aos seus efeitos de longo prazo, quanto à toxicidade ao nível da reprodução ou do sistema imunológico ou ação carcinogênica”.

A contaminação pode ocorrer no solo, durante o plantio, no tratamento da planta, depois na colheita e armazenagem, também dos processos industriais, da queima de substâncias que se transformam e pela incorporação de contaminantes e aditivos em alimentos:

“- A prevalência de doenças ou a morte prematura causada por químicos presentes nos alimentos é difícil de demonstrar, devido ao período de tempo, geralmente longo, que decorre entre a exposição a estes agentes e o aparecimento dos efeitos”, registra o documento .

Mentira consistente
O problema é que a comida moderna, saborosa, suculenta, cheirosa vendida pela publicidade no mundo inteiro é uma mentira. Todos os aspectos citados, incluindo ainda a cor, o tempo de vida na prateleira, a viscosidade, o brilho, o sabor adocicado, ou então o salgadinho bem sequinho, todos são resultado da aplicação de uma lista quase interminável de aditivos químicos. Inclusive registrada internacionalmente por códigos numerados e divulgada pelo Codex Alimentarius, da ONU. Por exemplo, o conservante nitrito de sódio é o E-250 e o adoçante artificial acessulfamo-K é o E-950.

Antes de avançar no assunto, um alerta da ONU sobre o uso de componentes químicos na vida moderna:

“- O sistema endócrino regula a liberação de certos hormônios que são essenciais para as funções como crescimento, metabolismo e desenvolvimento. Os CDAs, desreguladores endócrinos, podem alterar essas funções aumentando o risco de efeitos advesos à saúde. Os CDAs podem entrar no meio ambiente através de descargas industriais e urbanas, escoamento agrícola e da queima e liberação de resíduos.Alguns CDAs ocorrem naturalmente, enquanto as variedades sintéticas podem ser encontradas em agrotóxicos, produtos eletrônicos, produtos de higiene pessoal e cosméticos. Eles também podem ser encontrados como aditivos ou contaminantes em alimentos”.

O alerta das Nações Unidas é no sentido de realizar “urgentemente” novas pesquisas para avaliar o impacto dos também chamados disruptores endócrinos. Ocorre que alguns químicos sintéticos espalhados mundialmente têm uma estrutura molecular parecida com os hormônios naturais, como o estrógeno e a testosterona. Os hormônios funcionam como mensageiros da herança genética, e os químicos interferem nesse processo, alterando o conteúdo da mensagem. Em 1996, um grupo de pesquisadores norte-americanos – Theo Colborn, Diane Dumanoski e John Peterson Myers – lançaram o livro “O Futuro Roubado”, tratando dessa temática, com um apêndice na edição brasileira de José Lutzenberger. No Brasil o livro foi lançado em 2002. Urgência 17 anos depois.

Prático e barato
O problema é que a indústria se interessa por custo/benefício. Os aditivos dão consistência aos alimentos, não deixam a mostarda e a maionese virar uma gororoba, a carne e os produtos curados, como salsichas, mortadela, salames, perderam a cor vermelho-rosada. Os sorvetes não ficam com espuma, as sopas e caldos tem um cheiro maravilhoso. Fiquei enjoado de tanto ler sobre aditivos químicos nos últimos tempos. O mais impressionante, dos mais de 40 trabalhos que repassei, é a declaração da supervisora de marketing, da Química Anastácio (SP), para a revista Química e Derivados:

“- O nitrito de sódio é o principal aditivo usado em produtos cárneos, é o agente conservante de todos os produtos curados, promove a coloração vermelho-rosada nas curas e nos crus e o róseo avermelhado nos cozidos, além do sabor característico. Realmente esses produtos são considerados carcinogênicos, porém os grandes frigoríficos os utilizam pelo fato de não ter substituto no mercado. Mas devem ser usados com responsabilidade, respeitando os limites máximos de 0,015g por 100g e 0,03g por 100g, nos casos do nitrito e nitrato de sódio”, disse Alessandra Fernandes Guera.

A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (PROTESTE) tem trabalhos que mostram a capacidade dos nitritos e nitratos de sódio de reagir com certas substâncias presentes nos alimentos, que são as aminas, e se transformam em nitrosaminas, potencialmente cancerígenas.

Danos cerebrais
Uma pesquisa de Sandrine Estella Peeters, da COPPE-UFRJ aborda o tema de como os aditivos químicos afetam a saúde. Hiperatividade em crianças, citado como consequência de corantes em alimentos, além de dor de cabeça crônica. Urticária, erupção da pele, câncer em animais, além de riscos de longo prazo de causar danos cerebrais. Este é o caso do glutamato de sódio, muito conhecido nos temperos, mas é utilizado em mais de cinco mil produtos.

Considerado como um agente capaz de produzir efeito neurotóxico. Em outra pesquisa, da Universidade Cândido Mendes, Roseane Menezes Debatin, tese de mestrado, comenta o seguinte sobre o glutamato de sódio:

“– É um sal composto de uma molécula de ácido glutâmico ligada ao sódio. Tem um sabor adocicado, é um grande estimulante do paladar, suprimindo os gostos desagradáveis, levando a uma maior consumo de produtos industrializados. Usado em caldos, biscoitos, snacks, miojos, batata frita. O ácido glutâmico está envolvido na ativação de uma série de sistemas cerebrais, concernentes à percepção sensorial, memória, habilidade motora e orientação no tempo e espaço. Existem vários trabalhos científicos comprovando a neurotoxicidade do glutamato, principalmente na região do hipotálamo e no sistema ventricular”.

Nos Estados Unidos, o glutamato foi retirado dos alimentos infantis em 1969. A Ajinomoto maior indústria do ramo- 107 fábricas em 23 países - que comercializa o produto informa que o consumo no mundo cresce 5% anualmente.

Lista interminável
Os antioxidantes, usados na conservação, interferem no metabolismo, produzem aumento de cálculos renais, ação tóxica sobre o fígado e reações alérgicas, conforme a pesquisa da COPPE. Os conservantes, como o ácido benzoico, um dos mais usados, produzem irritação da mucosa digestiva, outros produzem irritações nas células que revestem a bexiga, podendo atuar na formação de tumores vesicais. As gorduras hidrogenadas provocam o risco de doenças cardiovasculares e obesidades. E os adoçantes artificiais, substitutos do açúcar, estão relacionados com a diabete, obesidade e o aumento de triglicerídeos (gordura na corrente sanguínea). Sobre os adoçantes, o professor e doutor em ciência de alimentos da Unicamp, Edson Creddio, comenta o seguinte:

“- Os adoçantes são medicamentos que devem ser usados por pessoas com diabetes e hipoglicemia e não por todas as pessoas, inclusive crianças, como se fossem totalmente isentos de risco. Esta substância é vista pelo público leigo como panaceia passada pela mídia com a imagem que levará o usuário a ter um corpo perfeito”.

Os adoçantes artificiais mais usados são a sacarina, que é 500 vezes mais potente que o açúcar, o aspartame, como diz o professor, que é 150 a 200 vezes mais doce, além do ciclamato e o acessulfamo-k, também muito mais doce que o açúcar. Estão presentes nos refrigerantes, bebidas isotônicas, sucos preparados, e demais industrializados.

Sódio em demasia
Fiz uma relação com 14 grupos de aditivos mais usados nos alimentos consumidos atualmente. Os conservantes aumentam o prazo de validade, os estabilizantes mantêm as emulsões homogêneas vamos dizer, os corantes acentuam e intensificam a cor natural para melhorar a aparência e fazer o consumidor acreditar que está levando algo novíssimo. Os antioxidantes evitam a decomposição, os espessantes dão consistência ao alimento e os emulsificantes aumentam a viscosidade do produto. Os agentes quelantes protegem os alimentos de muitas reações enzimáticas e os flavorizantes tem o papel de realçar o odor e o sabor dos alimentos. Já os edulcorantes são usados em substituição ao açúcar e os acidulantes utilizados para acentuar o sabor azedinho do alimento. Os humectantes mantêm a umidade e a maciez, os clarificantes retiram a turbidez, os agentes de brilho mantém a aparência brilhante e os polifosfatos são usados para reter a água, no caso dos congelados, como o frango e nos produtos curados.

No Brasil, a ANVISA desde 2011 negocia com a indústria de alimentos para diminuir a quantidade de sódio dos alimentos industrializados. Não há nem meta nem prazo para chegar a um nível aceitável. Numa pesquisa realizada em 2011, com 496 produtos das regiões nordeste, sudeste e sul foram encontradas entre produtos de diferentes empresas quantidades 10 vezes maiores nos queijos tipo minas frescal, parmesão e ricota. No entanto, as menores diferenças na quantidade usada de sódio entre os mesmos produtos de diferentes empresas chegaram a 40% no caso das mortadelas, macarrão instantâneo e bebidas lácteas. O teor de sódio mais elevado foi registrado no queijo parmesão inteiro e ralado, macarrão instantâneo, mortadela, maionese e biscoito de polvilho.

Informa a ANVISA: o sódio é um constituinte do sal, equivalente a 40% da sua composição, sendo um nutriente de preocupação para a saúde pública, que está diretamente relacionado ao desenvolvimento de doenças como hipertensão, cardiovasculares e renais. Na tabela de informação nutricional dos alimentos, que deve estar no rótulo, consta a quantidade de sódio. Para ser isento não pode ter mais de 5mg por 100g de alimento. Se tiver 40mg na mesma proporção é muito baixo e 120mg é considerado baixo. Na pesquisa da ANVISA o teor médio de sódio do macarrão instantâneo foi de 1.798mg por 100g, da mortadela foi de 1.303mg por 100g e o da maionese 1.096mg por 100g.

Tradução Colaborativa do Livro "Un projet de Décroissance"

Este é um chamado para a tradução colaborativa do livro "Un projet de Décroissance", de Vincent Liegey et al. (prefácio de Paul Ariès) do francês para o português.

O trabalho de tradução foi iniciado em julho e gostaríamos de tê-lo pronto no início de dezembro. Nosso trabalho, assim como todo trabalho realizado para a Rede Brasileira pelo Decrescimento Sustentável e boa parte dos trabalhos realizados pelo Projeto Nova Oikos, é voluntário. Ninguém receberá dinheiro pela tradução e qualquer entrada relacionada às vendas da obra após a publicação, serão revertidas para o financiamento e organização de cursos, de palestras e de encontros ao redor do tema do livro, do movimento pelo decrescimento e alternativas relacionadas.
 
 
Os tradutores serão convidados a participar de todo o processo de edição e publicação, sem que isto seja um imperativo. A tradução será distribuida entre os tradutores de acordo com as suas disponibilidades de tempo, sempre em pequenas partes: entre 10 e 15 páginas por vez.
O livro tem 150 páginas e linguagem acessível. 
Queremos dar uma contextualizada na obra e os tradutores também estão convidados a realizar este exercício. Sobre a contextualização algumas pessoas deste coletivo serão convidadas diretamente para esta tarefa.

 Interessados escrevam para: nova.oikos@gmail.com

Vamos ao trabalho colaborativo!!




Declaração pelo Decrescimento Barcelona 2010


Já que publicamos a tradução da Declaração pelo Decrescimento da primeira conferencia ocorrida em 2008, nada mais pertinente do que traduzirmos e publicarmos a declaração da segunda conferência ocorrida em 2010.

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Declaração pelo Decrescimento Barcelona 2010
No centro de uma crise internacional, mais que 400 pesquisadores e pesquisadoras, praticantes e membros da sociedade civil de 40 países estiveram concentrados em Barcelona no mês de março de 2010 para a segunda Conferencia Internacional pelo Decrescimento. A Declaração da Primeira Conferencia Internacional em Paris, 2008, observou a eminencia de uma crise multidimensional, a qual não era apenas financeira, mas também econômica, social, cultural, energética, política e ecológica. A crise é resultado de uma falha no modelo econômico baseado no crescimento.

Uma elite internacional e uma “classe média global” estão causando destruição do ambiente por meio de um evidente consumo e uma excessiva apropriação de recursos humanos e naturais. Seus padrões de consumo levam a um dano ambiental e social adicional quando imitado pelo conjunto da sociedade num círculo vicioso de busca pelo status por meio da acumulação e da posse material. Quando instituições financeiras, corporações multinacionais e governos irresponsáveis estão na vanguarda da crítica pública, significa que a crise tem causas estruturais profundas. As chamadas medidas anticrise que procuram impulsionar o crescimento econômico acabam por piorar as desigualdades e as condições ambientais a longo prazo. A ilusão do “crescimento alimentado pela dívida”, como por exemplo, forçar a economia crescer a fim de pagar a dívida, vai terminar num desastre social, deixando os débitos econômicos e ecológicos para as futuras gerações e para os pobres. Um processo de decrescimento da economia mundial é inevitável e será, por fim, benéfica ao ambiente. Mas o desafio é como manejar o processo para que seja socialmente equilibrado nas escalas nacional e global. Este é o desafio do movimento pelo Decrescimento, originado nos países ricos da Europa e em todos os lugares, de onde a mudança necessita ser iniciada.

Acadêmicos, ativistas e praticantes se reuniram em Barcelona para estruturar propostas para uma sociedade do decrescimento alternativa, ecologicamente sustentável e socialmente equitativa. A conferencia foi conduzida de um modo inclusivo e participativo. Ademais, para padronizar as apresentações científicas, cerca de 29 grupos de trabalho discutiram políticas para o decrescimento e definiram questões de pesquisa que reuniram temas econômicos, sociais e ambientais. Novas ideias e questões ausentes do diálogo predominante sobre desenvolvimento sustentável foram colocados na mesa: moedas e instituições financeiras, seguridade social e jornada de trabalho, população e consumo de recursos, restrições à propaganda, moratória à infraestruturas e santuários ecológicos, e muitos outros. Uma riqueza de novas propostas envolveram, inclusive: facilitação de moedas locais; eliminação gradual da moeda fiduciária e reforma dos juros; promoção da pequena escala, de companhias autogeridas e que não buscam o lucro; defesa e expansão dos recursos locais comuns e o estabelecimento de novas juridições para recursos globais comuns; estabelecimento de políticas integradas de redução da jornada de trabalho (compartilhamento de trabalho) e introdução de uma renda básica; institucionalização de um teto de renda baseado numa relação máximo-mínimo; desencorajamento do sobreconsumo de bens não duráveis e a subutilização dos duráveis por meio de regulação, taxação ou por abordagem de baixo para cima (bottom-up approaches); abandono das infraestruturas de grande escala, como usinas nucleares, barragens, incineradores e transportes de alta velocidade; conversão da infraestrutura baseada no carro para outra baseada no pedestre, no ciclista e em espaços abertos comuns; taxação da publicidade excessiva e sua proibição em espaços públicos; apoio aos movimentos por justiça ambiental do Sul que lutam contra a extração de recursos; introdução de uma moratória global ao extrativismo mineral em locais com alta biodiversidade e valores culturais, e compensação para se manter os recursos no solo; denunciar medidas de controle populacional impostas de cima para baixo e apoiar os direitos reprodutivos das mulheres, a procriação consciente e o direito à livre migração quando for conveniente a redução nas taxas de natalidade mundial; e desmercantilizar a política e o fortalecer a participação direta nas tomadas de decisões.

Nós afirmamos que estas propostas não são utopias: novos impostos redistributivos visando a desigualdade de renda podem financiar investimentos sociais e desencorajar o consumo e os danos ambientais; a redução das horas de trabalho com um reforço ao sistema de seguridade social poderá gerir o desemprego. Como a economia de partes ricas do mundo se contrai silenciosamente e o dano ao ambiente a partir de novas infra-estruturas e atividades extrativas são restritivos, o bem-estar deverá aumentar por meio de investimentos públicos de baixo custo social e em bens relacionais.

Cada nova proposta gera várias novas objeções e questionamentos. Nós não reivindicamos ter uma receita para o futuro, mas não podemos mais fingir que podemos continuar a crescer como se nada tivesse acontecendo. A loucura do crescimento chegou ao fim. O desafio agora é como transformar, e o debate está apenas começando.

Tradução: Alan A. Boccato-Franco

Original: Degrowth Declaration Barcelona 2010
Fonte: http://www.barcelona.degrowth.org/Barcelona-2010-Declaration.119.0.html

Declaração pelo Decrescimento: Conferencia de Paris, 2008


 

Celebrando os 5 anos desde a primeira Conferência pelo Decrescimento realizada em Paris no ano de 2008, disponibilizamos a tradução para o português da Declaração pelo Decrescimento desta conferencia. 

Para baixar em pdf, clique aqui


Declaração pelo Decrescimento: Conferencia de Paris, 2008

Nós, participantes da Conferência pelo Decrescimento Econômico e Sustentabilidade Ecológica e Equidade Social ocorrida em Paris nos dias 18 e 19 de Abril de 2008, fazemos a seguinte declaração:

1. O crescimento econômico (indicado pelo aumento do PIB ou PNB) representa um aumento na produção, no consumo e no investimento na busca de excedente econômico, conduz inevitavelmente ao aumento na utilização de matéria, energia e terra.
2. Apesar de melhorias na eficiência ecológica da produção e consumo de bens e serviços, o crescimento econômico global tem resultado na extração crescente de recursos naturais e no aumento do desperdício e de emissões.
3. O crescimento econômico global não tem tido sucesso na redução substancial da pobreza, que devido às trocas desiguais nos mercados financeiros e comerciais tem aumentado as desigualdades entre países.
4. Como demonstram os princípios estabelecidos pela física e pela ecologia, há um eventual limite na escala de produção e de consumo globais, e na escala na qual as economias nacionais poderão alcançar sem imporem custos ambientais e sociais sobre outros locais ou às gerações futuras.
5. A melhor evidência científica disponível indica que a economia global cresceu para além dos limites ecologicamente sustentáveis, tal como muitas economias nacionais, especialmente aquelas dos países mais ricos (primeiramente, os países industrializados do Norte global).
6. Existem também evidencias suficientes de que o crescimento global na produção e consumo é socialmente insustentável e anti-econômico (no sentido em que os seus custos superam os seus benefícios).
7. Ao utilizar mais do que a sua legítima quota-parte dos recursos ambientais globais, as nações mais ricas estão efetivamente reduzindo o espaço ambiental disponível para as nações mais pobres, e impondo impactos ambientais adversos sobre elas.
8. Se não respondermos a esta situação trazendo a atividade econômica global para um nível em consonância com a capacidade dos nossos ecossistemas, e redistribuindo globalmente a riqueza e a renda de maneira a satisfazer as nossas necessidades, o resultado será um processo de declínio ou colapso econômico involuntário e descontrolado, com impactos sociais potencialmente sérios, especialmente para os mais desfavorecidos.

Assim, apelamos por uma mudança de paradigma, de uma busca geral e sem limites pelo crescimento econômico para um conceito de “encontrar a dimensão certa” das economias nacionais e global.

1. Ao nível global, “encontrar a dimensão certa” significa reduzir a pegada ecológica global (incluindo a pegada de carbono) para um nível sustentável.
2. Em países onde a pegada per capita é maior do que o nível sustentável global, encontrar a dimensão certa implica uma redução para este nível num horizonte temporal razoável.
3. Em países onde persiste a pobreza severa, encontrar a dimensão certa implica aumentar o consumo para os que vivem na pobreza tão rapidamente quanto possível e de um modo sustentável, para um nível adequado à uma vida decente, reduzindo a pobreza por meio de políticas determinadas localmente em vez de políticas de desenvolvimento impostas de fora.
4. Isto irá exigir o aumento da atividade econômica em alguns casos; mas uma parte mais essencial deste processo é a redistribuição da renda e da riqueza tanto dentro quanto entre os países.

Esta mudança de paradigma envolve o decrescimento nas zonas ricas do Mundo.

1.O processo pelo qual a dimensão certa poderá ser alcançada nos países mais ricos, e na economia global como um todo, é o “decrescimento”.
2.Definimos decrescimento como uma transição voluntária em direção a uma sociedade justa, participativa e ecologicamente sustentável.
3.Os objetivos do decrescimento são satisfazer as necessidades humanas básicas e garantir uma alta qualidade de vida, reduzindo o impacto ecológico da economia global para um nível sustentável, equitativamente distribuído entre as nações. Isto não será alcançado por uma contração econômica involuntária.
4. O decrescimento requer a transformação do sistema econômico global e das políticas promovidas e perseguidas a nível nacional, para permitir a redução e a erradicação final da pobreza absoluta à medida que a economia global e as economias nacionais insustentáveis decrescem.
5. Uma vez que a dimensão certa tenha sido alcançada pelo decrescimento, o objetivo deverá ser manter uma “economia de estado estável” com um nível de consumo relativamente estável e flutuando levemente.
6. Em geral, o processo de decrescimento é caracterizado por:
  • uma ênfase na qualidade de vida em vez da quantidade de consumo;
  • a realização de necessidades básicas humanas para todos;
  • mudança social baseada num conjunto de políticas e ações individuais e coletivas diversas;
  • redução substancial da dependência na atividade econômica, e um aumento do tempo livre, trabalho não remunerado, convivialidade, senso de comunidade, e saúde individual e coletiva;
  • encorajamento da auto-reflexão, equilíbrio, criatividade, flexibilidade, diversidade, boa cidadania, generosidade, e não-materialismo;
  • observação dos princípios da equidade, democracia participativa, respeito aos direitos humanos, e respeito às diferenças culturais.

7.O progresso em direção ao decrescimento requer passos imediatos no esforço de tornar corrente o conceito de decrescimento no debate público e parlamentar e nas instituições econômicas; o desenvolvimento de políticas e de ferramentas para a implementação prática do decrescimento; o desenvolvimento de novos indicadores não-monetários (incluindo indicadores subjetivos), para identificar, medir e comparar os benefícios e custos da atividade econômica, de modo a avaliar se mudanças na atividade econômica contribuem para ou comprometem o cumprimento de objetivos sociais e ambientais.


Tradução: Alan A. Boccato-Franco

Original: Degrowth Declaration of the Paris 2008 conference
Fonte: http://www.barcelona.degrowth.org/Paris-2008-Declaration.56.0.html